Em cada poema, Cada flor ou letra
No que lê ou escreve, Não sabe onde meta
aquilo que passa por dentro de cada pensamento seu.
Será ele o único, a viver isto tudo
Que vê tantas danças, Enquanto pensa mudo
Apenas sabe dizer que o tamanho do que sente é do tamanho do mundo.
Sem Título
Sobre lençóis eu vejo um horizonte que te pertence
Deixo a viagem fazer-se por partes do mundo que não conhecia
A migração passa por cima dos nossos peitos ardentes
Que larga sementes
de onde flores nascerão, pétalas e aromas
E deles um infinito número de beijos em ti.
Lezíria
Ao longe vi o bando aproximar-se. Estava à espera de cegonhas ou de umas íbis-pretas, mas no momento em que apontam os bicos em direção ao sol posto e se viram de perfil para mim e para o comboio regional das seis da tarde arregalo os olhos e rebentam-se fogos de artifício por dentro das minhas íris. Observo os pescoços de girafa bem apontados para oeste e as longas pernas esticadas como um ser em pontas de ballet em pleno voo.
Eram Flamingos! Eram Flamingos, meu amor!
Sem Título
Fui ao campo e vi os campos
lavrados em cor de terra.
Chorou-se nos meus olhos
chuva que se desenterra.
Chuva que se desenterra,
Ai chuva que vem da serra.
Meu amor ao ouvir o canto
abraçou-me na terra.
Fui ao campo e vi os campos
que davam novas pradarias.
Deu-se a chuva, voltou o sol.
Meu amor, minha alegria;
Foi-se a chuva, voltou o sol.
Meu amor, minha alegria.
Fui ao Campo
E maria de saia encarnada, costura linha com agulha,
Pica o dedo, pouco dura,
Até largar tons de memória, de tempos e de amargura.
Maria
Lê-me como um dos teus livros. Folheia-me cada página do meu cabelo. Lê para mim cada palavra da minha boca. Marca e desenha cada folha da minha pele.
Teu é o livro que te ofereço, teu é o corpo que te dou.
Sem Título
Pessoas conectar-se-ão;
Como satélite e planeta,
As mentes se conectam.
O fogo que entre nós mora,
Chama alegre que ilumina.
Ilumina, ilumina.
Cucos cantam ao redor,
Pétalas no chão, posadas,
Caíram do topo de uma flor.
Flor que era minha,
Que larguei sem querer largar.
Larguei, larguei.
Larguei sem querer largar.
O piano já não toca no fundo.
Outros sons são audíveis
Do outro lado do mundo.
"É para lá que eu vou."
Então abriu as suas asas,
E voo.
As Pessoas Voam
Adormeceu na luz da alvorada.
Faz-se adormecida, entrelaçada.
O primeiro voo de um melro,
O acordar do dia.
Na erva alta, os cabelos enrolados.
Vê-se acaraciada p'la luz dos galhos.
Já voa o pequeno melro,
Desperta a alvoria.
Sem Título
Trazia consigo a espiga,
Sua amiga,
No bico da palavra.
E cantava
A saudade.
Esteve longe, esteve fora.
E agora,
Regressa à sua terra.
Já enxerga a chegada.
E depois de tanto tempo ela
regressa a casa.
A saudade acaba.
Já chegaste.
Vê de longe a sua serra, canta alto
"Minha terra“.
Fica feliz,
Pois já chegaste.
Ó Rolinha,
Diz-me quantas são as penas que tu tens.
Rola minha,
Voa tanto quanto os ventos te deixem.
Ó Rolinha,
Diz-me quantas são as saudades que
tens.
Rola minha,
Já chegaste à tua terra, tua mãe.
canção da chegada
Já sou nascido há algum tempo.
Corpo é jardim,
É semente nascida em ti.
Terra de légua, onde deixo minha alma.
Miragens em mim,
Sou semente nascida em ti.
São de ti as raízes.
O coração te pertence.
Será em ti talvez um dia onde se vá
enraizar.
E quem sabe um dia,
num prado teu se estenderá.
Será em ti talvez um dia onde se vá
enraizar.