2023 - 2024
De botas vou ao rio,
mas de lá volto descalço
De uma coleção de cacos e pedaços de flora brota esta coleção de sete livros de artista, livros de colecionador.
De botas vou ao rio, mas de lá volto descalço é um retrato ao rio Almonda. Afluente do rio Tejo, nasce das profundezas da Serra D’Aire, onde surge perto de Almonda, aldeia a que deu nome.
O projeto encontra-se ainda em desenvolvimento. As buscas por testemunhos, poemas e matéria que alargue a coleção de cacos e pedaços de flora é contínua.
Os sete livros consistem numa recolha e partilha de histórias e matérias de memória que, de certa forma, foram, no seu todo, oferecidas pelo rio.
A sua ordem expositiva segue o percurso desenhado pelo rio, fazendo cada livro dedicar-se a uma das localidades por onde o mesmo faz as suas margens: Nascente, Ribeiras Branca e Ruiva, Lapas, Torres Novas, Riachos, Boquilobo, Azinhaga.
Com as margens bem cuidadas,
Caminhavam ao nascer do sol
Moças novas e casadas
Ao cantar do rouxinol.
A alegria da gente nova
E o cantar dos passarinhos
Eram duas lindas trovas
Que ouviam pelo caminho.
Eu mirava o alto choupo
Que vergava com o vento.
O freixo é mais firme
É frágil pensamento.
Também é frágil o chorão,
Eu miro aquela ramagem.
Ao fraco vento suão
O povo chama-lhe aragem.
Manuel Carvalho Simões,
Riachos em versos e outros versos
Eu lembro-me que antigamente íamos sempre ao rio lavar a roupa. As nossas mães e nós também… Nós íamos lavar a nossa roupa ao rio. Debaixo da ponte, às sombrinhas. Ó’pois, quando começaram a vir as máquinas de levar deixou de existir. Toda a gente começou a ter máquinas.
Levávamos um alguidar. Normalmente era um alguidar de zinco ou de barro, e íamos lá para baixo lavar a roupa nas pedras. Metíamo-nos no rio! Algumas pessoas que não podiam ir para dentro d’água tinham uma tábua de madeira onde se ajoelhavam.
E é assim, também havia as que lavavam roupa para fora. Eu sei de uma tia minha. Ela todas as semanas ia a Torres Novas, a cavalo num burro, buscar a roupa, lavá-la… E ia entregar a roupa a Torres Novas. E durante anos ela fez isso. E haviam outras que faziam isso.
Noémia de Deus Pereira
(…)
Eleva-se, rodopia na varanda das árvores do jardim
E nesse festim
O rio desejo
Envia-lhe um beijo
No limite da cascata
Na noite da amar
Lá foram os dois
A cidade abraçar
Maria Zabeleta
Roteiro Lírico do Rio Almonda